quarta-feira, 13 de abril de 2011

"Uma história de amor e corações partidos."

Para atualizar, resolvi dar-lhes de presente um texto que eu gosto muito.
Foi publicado em alguma edição da revista Capricho há bastante tempo (é, eu não tenho muita informação sobre a origem do texto :x).


Imaturidade Precoce
por: Antonio Prata


"Se eu pudesse escolher um único momento para voltar no tempo e corrigir um erro, iria para aquela tarde de 1987. Eu tinha 9 anos e estava na 4ª série. Fazia um trabalho em grupo, com meus amigos, as mesas encostadas umas nas outras. Só homens. (Imagina só se iríamos nos juntar às - arght! - meninas...)
Então chegou a Madalena e jogou na minha mesa um papel minuciosamente dobrado. Na face virada para cima, lia-se: "Para o Antonio". Nem precisaria virar o bilhete para saber quem era a remetente.
Eu era apaixonado pela Luana desde o primeiro dia de aula da 1ª série. Era daquelas paixões de criança, terríveis, porque fortíssimas e ao mesmo tempo insatisfazíveis. O que eu ia fazer? Beijar na boca com 6 anos? Sentia vontade de ficar perto, muito perto, e ao mesmo tempo uma vergonha, como se aquilo fosse errado, sei lá porque.
Na 2ª série, Luana me escreveu uma cartinha. Desenhou um avião jogando flores sobre um campo, onde uma pessoa corria. Lá em cima, estava escrito: "Antonio, você é muito legal". Foi a primeira carta de amor que eu recebi. Talvez, a mais bonita.
Dois anos se passaram e, até onde eu lembro, não aconteceu nada (e, também, o que poderia acontecer?). Até que Madalena jogou aquele bilhete na minha mesa e minhas pernas tremeram. Tremeram porque eu sabia que era uma carta do meu amor. Tremeram porque eu tinha vergonha de amar uma menina. E, diante do pavor de que meus amigos descobrissem que eu tinha algum tipo de relacionamento com as inimigas do sexo oposto, e que começassem a bater na mesa e cantar, "tá namorando! Tá namorando! Tá namorando!", peguei o bilhete o mais rápido que pude e - ai, como me arrependo! - joguei pela janela.
Claro que meus colegas perceberam e foram correndo para a janela. A cartinha, azar dos azares, tinha caído numa sacada, aberta. De um lado lia-se "de Luana" e, do outro, "para Antonio". A classe inteira ficou sabendo que:
a) A Luana gostava de mim.
b) Eu era uma besta quadrada e havia jogado fora, sem ler, a carta que ela havia me escrito.
Olhei para o outro lado da classe. Luana estava chorando. Madalena a consolava e olhava para mim, com ódio nos olhos. Eu tinha 9 anos e havia partido o coração do meu amor (eu já era imaturo naquela época).
Se pudesse voltar no tempo..."


Antonio Prata torce para que a Luana leia este texto.