Já com um lembrete no celular do próximo aniversário do blog, vamos comemorar!
E pra começar, eu reli minhas melhores postagens e percebi o quanto amadureci desde o início do blog, o quanto ele foi importante pra mim nesses 2 anos de existência e o quanto é maravilhoso quando uma pessoa te diz que alguma postagem foi importante em sua vida.
Dessa vez eu queria agradecer especialmente a Deus, pois foram as dificuldades e felicidades que Ele pôs em meu caminho que me tornaram mais forte e me ajudaram a manter o blog.
E, antes que eu me derreta, quero dividir o ato de fazer um desejo antes de apagar as velas. Nos próximos 30 segundos eu gostaria que a pessoa que estiver lendo este post fizesse um desejo.
Quem acompanha o Demaquilando sabe que no aniversário do blog quem ganha presente são os leitores. E este ano escolhi uma parte de um texto que é particularmente muito importante pra mim:
"Vejo um garoto descalço rodear a árvore pela centésima vez. Ouço o bater do seu coração e sinto-lhe as palmas úmidas das mãos e um vago cheiro de seiva quente que sobe das ervas. O rapazinho levanta a cabeça e vê lá no alto o topo da árvore que se agita lentamente como se estivesse caiando o céu de azul.
Os dedos do pé descalço firmam-se na casca do freixo, enquanto o outro pé balouça o impulso que fará chegar a mão ansiosa ao primeiro ramo. Todo o corpo se cinge contra o corpo áspero e a árvore decerto ouve as pancadas surdas do coração que se lhe entrega. Até o nível das outras árvores antes conquistadas, a agilidade e a segurança alimentam-se do hábito. Mas, a partir daí, o mundo alarga-se subitamente, e todas as coisas, até então familiares, se vão tornando estranhas, pequenas, é como um abandono de tudo – e tudo
abandona o rapaz que sobe.
Dez metros, quinze metros. O horizonte roda devagar e cambaleia quando o tronco, cada vez mais delgado, oscila ao vento. E há uma vertigem que ameaça e não se decide nunca. Os pés arranhados são como garras que se prendem nos ramos e não os querem largar, enquanto as mãos buscam frementes a altura, e o corpo se contorce contra o corpo vertical da árvore. O suor escorre, e de repente um soluço seco irrompe à altura dos ninhos e dos cantos das aves.
É o soluço do medo de não ter coragem. Vinte metros. A terra está definitivamente longe. As casas rasteiras são insignificantes, e as pessoas é como se tivessem desaparecido, e de todas apenas restasse o rapaz que sobe – precisamente porque sobe.
Os braços já podem cingir o tronco, as mãos já se unem do outro lado. O topo está perto, oscilante como um pêndulo invertido. Todo o céu se adensa por cima da última folha. O silêncio cobre a respiração arquejante e o sussurro do vento nos ramos. É este o grande dia da vitória.
Não me lembro se o rapaz chegou ao cimo da árvore. Uma névoa persistente cobre essa memória. Mas talvez seja melhor assim: não ter alcançado o pináculo então, é uma boa razão para continuar subindo. Como um dever que nasce de dentro e porque o sol ainda vai alto."
Fragmento de "A minha subida ao Everest",
José Saramago (1973), A bagagem do viajante.
Um beijo e um abraço apertado, Anna Karoline.
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